Após iniciar o mês de junho na casa dos R$4,70, o dólar emendou uma série de altas até alcançar o pico de R$5,50 durante a última semana. Com a crescente volatilidade no câmbio, muitos assessores se deparam com as dúvidas sobre os rumos que a moeda norte-americana deve tomar até o final do ano com todas as incertezas em nível nacional e global. A CRC!News conversou com especialistas do mercado para entender os principais vetores que devem influenciar o dólar ao longo do segundo semestre.
Segundo Alexandre Netto, head de Câmbio da Acqua Vero Investimentos, o início do ano viu uma forte valorização do real por conta de dois fatores principais: o Banco Central fez movimento antecipado em relação ao restante do mundo de elevar os juros, e a guerra entra Rússia e Ucrânia elevou o preço das commodities.
“Quando o Brasil inicia seu ciclo de aperto monetário enquanto a taxa está muito reduzida lá fora, o país atrai o capital estrangeiro. Da mesma forma, como somos exportadores de commodities, nos beneficiamos da disparada nos valores. Tudo isso contribuiu para o real se fortalecer ante o dólar ao longo do primeiro semestre”, revela.
Contudo, este cenário não deve se repetir no segundo semestre, pois os preços das commodities se estabilizaram e o Fed passou a elevar a taxa de juros nos Estados Unidos após perceber que a inflação local não era transitória. Além dos vetores externos, Bruno Komura, estrategista da Potenza Capital, vê alguns fatores locais como desfavoráveis para a moeda nacional.
“Nosso risco fiscal aumentou substancialmente, principalmente com a aprovação da PEC dos Combustíveis. Criamos um gasto temporário de R$40 bilhões para o segundo semestre, mas como no Brasil o temporário se torna permanente, já podemos esperar despesas de R$80 bilhões para o próximo ano. E surge a dúvida: de onde vamos conseguir financiamento para custear todos esses aumentos de gastos?”, questiona.
Para Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo, esse momento inicial de incerteza, que coincide com a eleição, deve depreciar o real até o começo de novembro. Passado este período, ele acredita que as definições relacionadas ao próximo mandato podem contribuir para uma valorização.
“Uma eventual recessão no mundo pode reduzir a demanda por commodities e pressionar o câmbio em países exportadores como o Brasil. Mas se o futuro governo der sinais de que vai voltar a ter uma agenda de compromisso fiscal e reorganizar as contas públicas, pode ser favorável para a nossa moeda”, opina.
Já Komura tem uma visão não tão positiva, e acredita que boa parte dos benefícios concedidos deve ser financiado pela inflação, que vai elevar também os tributos, fazendo com que o país conviva com uma taxa de juros elevada por mais tempo. “O Banco Central fez a lição de casa, mas a parte fiscal está jogando contra. O real hoje perto de R$5,40 reflete todos esses riscos e deve permanecer nesse nível mesmo com o final das eleições. Independentemente do resultado, teremos um cenário muito complicado”, projeta.
Em relação ao euro, Costa, avalia que o fato de a Europa se encontrar em uma situação mais frágil do que os Estados Unidos neste momento cria um certo descompasso que pode levar o dólar a superar o euro nos próximos meses. “A recessão para os países europeus pode vir já no terceiro trimestre muito por conta da guerra e das limitações do fornecimento de gás por parte da Rússia, enquanto a economia dos EUA ainda está crescendo e o Fed vem subindo os juros em um ritmo mais razoável. Tudo isso cria um cenário favorável para o dólar em relação ao euro”, projeta.
Vale investir em câmbio?
Na visão Netto, a exposição direta ao câmbio é mais voltada para perfis de risco agressivos. No entanto, investir em uma moeda como a norte-americana pode ser uma forma interessante de proteção do poder de compra. “Muitos insumos que vem para o Brasil são dolarizados, então ter um pedaço da carteira com exposição ao dólar serve como uma forma saudável de minimizar eventuais perdas”, avalia
Dentre as opções indicadas, Komura destaca a criação de uma conta internacional para investimento nos Estados Unidos ou aportes em fundos. “A melhor forma de investir em dólar é através de multimercado, porque na gestora existem especialistas que olham esse mercado e possuem maior capacidade para encontrar todas as oportunidades disponíveis do que o investidor de varejo”, recomenda Komura.
Texto publicado na edição 46 da revista CRC!News. Acesse e leia as principais notícias do mercado de assessoria de investimentos.