“Muitos acabam desistindo da profissão porque tomou a decisão baseada em fantasia, vem para a profissão por motivos errados, muitas vezes atraídos pelas promessas de altos ganhos financeiros”, avalia a sócia fundadora do Mercado In Foco, Roberta Santoro. A empresa conduzida pela empresária é voltada para cursos que auxiliam os assessores de investimento na conquista de seus objetivos no mercado financeiro.
Com um papel de educadora e mentora, Santoro já viu diversos perfis passarem em seu curso e compreende as aflições dentro desse nicho. Muitos acabam fazendo a transição de carreira pela motivação errada e sem planejamento prévio. “De fato, é possível você ganhar muito dinheiro na assessoria de investimentos, mas não é simples e não acontece da noite para o dia. Tem todo um processo que precisa ser feito e respeitado”, destaca.
É natural que um mercado tão novo quanto o de investimento de capitais comece a mostrar as dores de crescimento. Muitas oportunidades aparecendo pelos sites de vagas e poucas pessoas qualificadas para preencher o cargo e poucas empresas com uma boa base de treinamento é resultado de um crescimento muito acelerado. Seria falta de interesse? Falta de conhecimento da área? Um mercado muito competitivo? Escritórios despreparados para capacitar?
Para Rick Silva, fundador do Vida de Assessor e mentor de assessores de investimentos, isso se dá justamente por conta da dificuldade nos primeiros anos de profissão. Há muito estudo e preparação envolvida e que leva tempo. Ele faz a analogia com o surf “é como se eu estivesse aprendendo a surfar. Para passar a arrebentação, a parte mais difícil, precisei começar do zero. Depois quando você já está atrás esperando as ondas perfeitas virem, elas aparecem e você consegue surfa-las”.
Pode-se dizer que o sonho da carteira de nove dígitos de muitos dos que vêm para a profissão atraídos pelo falso discurso de riqueza em pouco tempo, acaba se desfazendo quando se depara com o primeiro e mais desafiador ano do assessor de investimentos. Alguns escritórios vendem o sonho de uma profissão glamurosa, mas não acabam dando o amparo que o recém-chegado na profissão precisa, o que gera frustrações e desistências, no curto prazo.
A CRC!News entrevistou assessores de investimento que passaram por muitas dificuldades no início de carreira e, em alguns casos, chegaram até a desistir da profissão, como aconteceu com o João (nome fictício que colocamos na matéria, pois a fonte não quis revelar sua identidade).
João, publicitário de formação e com MBA no currículo, se viu abandonando na carreira de assessor, quando percebeu que tinha sido enganado. Ele fez a transição de carreira motivado pela vontade de fazer as pessoas investirem melhor, mas chegando no escritório o sonho virou decepção. “Cheguei a me preparar financeiramente, assim como todo mundo fala que precisa, para fazer a mudança, mas fiquei decepcionado quando percebi que o que queriam era mais alguém para ficar ligando para prospects o dia inteiro. As reuniões eram basicamente para saber quantas pessoas eu consegui ligar naquela semana e isso me frustrou. Me sentia em um telemarketing. Via o líder de equipe falar que não entendia nada de investimentos e que só passava tudo para a mesa. Fiquei aliviado quando sai”, relatou. Na entrevista, ele reforçou que a falta de treinamento e preparação para os novos ingressantes era o que mais o decepcionava na empresa, ele se sentiu enganado com as falsas promessas de trabalhar por um propósito.
Resiliência
Por sua vez, Thaís Silva, hoje assessora de investimentos, conta que a sua dificuldade principal foi em fazer as pessoas ao seu redor acreditarem também que daria certo na profissão, uma vez que enfrentou junto com a mudança profissional, o período de pandemia. Na ocasião, apesar de ocupar um ótimo cargo em um banco tradicional, sentiu que era hora de arriscar e migrar para a assessoria. “Seria uma oportunidade onde eu poderia fazer a minha carreira. Foram quase dois anos planejando essa mudança dentro do banco, trabalhando a família, trabalhando a minha cabeça para poder realmente conseguir sair. E ai, eu saí no dia 28 de fevereiro de 2020. Entrei no escritório no dia 3 de março e no dia 15 todo mundo parou por conta da pandemia. Foram meses extremamente complicados porque ninguém queria falar de investimentos e eu tinha uma carreira extremamente consolidada dentro do banco e precisei me virar. Eu cheguei a receber salários de vinte reais, na época não tinha ajuda de custo nem nada”, relatou Thaís o momento exato que pensou em desistir.
O obstáculo na prospecção também foi um dos maiores desafios para Marcelo Argenton. Ele começou a trabalhar nesse mercado em 2009, encontrou algumas dificuldades no meio da assessoria e acabou indo para o banco tradicional. Após alguns anos, decidiu voltar para a assessoria pois percebeu que se encaixava mais com o pensamento que tinha de crescimento profissional e, desde então, trabalha para construir e consolidar sua carteira. Para ele, a resiliência é a característica mais importante para conseguir se manter na profissão “uma coisa que eu aprendi, e parece clichê, mas é verdade, o cliente se torna seu amigo, mas o seu amigo não se torna o seu cliente. Tenha muita persistência e não desista”.
Leia o texto completo na edição 29 da revista CRC!News.