As declarações do presidente Lula defendendo mudanças na meta da inflação e criticando a independência do Banco Central tiveram ontem um forte impacto na Bolsa de Valores.
Logo depois da abertura da B3 desta quinta-feira, a taxa do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,58% para 12,61%, após ter ido a 12,87% na máxima do dia.
Posteriormente, ao longo do dia de ontem, o ministro de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, tentou ajustar o discurso do governo dizendo pelas redes socais que o Executivo não pretende alterar a relação com o Banco Central.
Com a palavra os representantes do mercado
A CRC!News conversou com alguns players do mercado como eles avaliam o episódio.
No entendimento de João Savignon, economista na Kinitro Capital, apesar da tentativa de Padilha colocar panos quentes, as declarações de Lula abriram um precedente e devem continuar causando impacto nos juros futuros.
“O episódio recente é negativo e reflete um retrocesso no debate econômico, que resultará em deterioração das expectativas de inflação, maiores prêmios de risco e volatilidade nos juros futuros” afirmou Savignon.
Nesse sentido, Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, destacou que as declarações do presidente interferiram nas projeções da casa em relação à meta de inflação para os anos de 2025 e 2026.
“A crítica do presidente Lula ao Banco Central independente ela é bem negativa. Acho que para a curva de juros e para expectativa de inflação, ele passa um sinal de que vai indicar que o Conselho Monetário Nacional aumente a taxa de inflação do centro da meta, para os próximos anos. Com isso, a gente já revisou para cima a expectativa de inflação para 4,5% em 2025 e 2026”, destacou Cruz.
Para o Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, as colocações de Lula sobre o Banco Central vêm dentro de um ambiente em que o mercado ainda tem muitas dúvidas sobre a agenda econômica do atual governo.
“Existe ainda muita incerteza com relação a condução da política econômica desse novo governo. A comunicação difusa entre o que o Haddad diz, sobre diminuição do déficit nas contas públicas. E o que o presidente Lula fala sobre expansão do gasto público e desoneração de impostos, tem deixado o mercado volátil, por ainda não entender o que de fato será realmente executado”, considerou.
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Cenários para Selic
Em meio às incertezas e volatilidades, os especialistas têm traçado cenários que passam por otimista, neutro a pessimista para a taxa Selic deste ano.
“Nós ainda entendemos que dá para começar a cortar sim. Dos atuais 13,75%, o Copom começaria a fazer um corte no segundo semestre. Colocamos 12%”, avaliou Gustavo Cruz, da RB Investimentos. O profissional disse que também não está descartado um horizonte mais pessimista, com uma Selic bem acima da atual. “Um cenário pessimista é de taxa Selic de 16%. Entendemos que ao contrário dos últimos anos, o presidente Lula recebe um nível de endividamento muito alto e um fluxo ainda bem negativo”.
Por outro lado, João Savignon, economista na Kinitro Capital, trabalha com um cenário mais consolidado para atual taxa de juros.
“Estamos trabalhando com a estabilidade da taxa Selic em 13,75% ao longo de todo o ano. A manutenção de uma comunicação ruidosa pelo governo, aliada a um cenário externo desafiador dificulta a coordenação das expectativas, elemento central para balizar as projeções econômicas e a performance dos ativos, e, consequentemente, o trabalho do BC em trazer a inflação para o centro da meta”, considerou.
Qual é o melhor investimento?
Dentro do atual contexto, Savignon descarta no curto prazo os ativos domésticos.
“O cenário brasileiro é de muita incerteza, nesse momento não temos posições direcionais nos ativos domésticos. Aproveito para complementar que fazemos uma gestão ativa dentro do nosso fundo Multimercado, o Kínitro 30 FIC FIM, com reuniões regulares sobre nossas visões e estratégias, buscando sempre as melhores oportunidades”, afirmou.
Já Gustavo Cruz tem o entendimento de que a melhor opção é a renda fixa e o multimercado para os mais agressivos.
“Assim como no ano passado, entendo que vai ser um ano de juros em níveis bem elevados. Por isso, a renda fixa é o destaque das nossas recomendações. E dentro da renda fixa nós ainda temos preferência para o pós fixados atrelados ao CDI”, destacou. “Para perfis agressivos, nós seguimos gostando muito dos fundos multimercados. Nós entendemos que em momentos de juros mais altos no Brasil e externo, eles sabem navegar bem como demonstraram no ano passado”, concluiu.
Para Paulo Luives, especialista da Valor Investimentos, ainda há espaço para oportunidades na Bolsa.
“A Bolsa nesse momento negocia quase 40% abaixo da sua média histórica dos últimos 15 anos. O que representa uma oportunidade para quem tem uma visão de longo prazo. Mas vale ressaltar que o mercado ainda pode continuar volátil em meio a essa incerteza”, finalizou.
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