O forte período de turbulência afastou os investidores das criptomoedas, o que fez com que os ETFs (Fundos Negociados em Bolsa) de criptoativos também caíssem. Segundo especialistas ouvidos pelo BP Money, dado os contornos macroecômicos que o mundo passa atualmente, o investidor precisa se manter cauteloso em relação a esses produtos.
BP Money conversou com especialistas que apontaram que, por conta do receio dos investidores, a performance das criptomoedas na B3 não foi de acordo com o esperado pelos acionistas.
O mercado de ETFs de criptoativos na Bolsa de Valores tem se caracterizado por profundas quedas no ano de 2022. Nomes como Hashdex (HASH11) e QR Asset (QR Asset Management), recém integrados pela CVM (Comissão de Valores Imobiliários), fazem parte do grupo de resultados negativos.
Apesar da popularização do universo cripto, em que alguns países como EUA, Reino Unido e Venezuela já adotaram moedas digitais próprias, são as bolsas norte-americanas que desempenham a maior influência sobre o comportamento das ações de criptoativos.
De acordo com Raquel Vieira, especialista em criptomoedas na Top Gain, o desempenho dos fundos de cripto na B3 nos primeiros meses deste ano possuem impacto direto do momento de aperto monetário vivido nos EUA, por conta do combate do FED (Federal Reserve, banco central norte-americano) contra os índices inflacionários na região.
“Os ETFs de cripto dependem muito de como os criptoativos em geral estão se saindo no mercado mundial. Entretanto, com a atual situação do mercado norte-americano em descontrole inflacionário, as negociações com os criptos sofrem forte impacto”, disse Vieira.
Para Pedro de Luca, analista de criptos na Levante Investimentos, a recessão global impulsiona o receio dos investidores para aderirem às criptos.
“Como o mercado norte-americano atua como termômetro para as performances dos criptoativos, a única forma que possibilitaria os acionistas a investirem em ETFs de cripto na Bolsa seria ‘perdendo o medo’ gerado por parte do mercado”, afirmou de Luca.
Barreira de entrada nos ETFs de criptoativos segue diminuindo, mas continua alta para muitos investidores
Desde sua criação, o mercado de criptos aumentou consideravelmente sua popularização ao redor de todo mundo, permitindo que novos usuários pudessem aderir ao novo método de transação financeira, segundo Raquel Vieira.
“Não acredito que seja correto afirmar que um produto como os criptos não atraia muitos investimentos. Esse mercado começou aproximadamente no ano de 2008, logo, é um setor muito recente. Mesmo assim, foi um segmento que cresceu muito, e hoje 2% da população mundial já investe nesse mercado, sendo possível até para fazer um paralelo com a internet, por exemplo”, reforçou a analista.
Entretanto, diversas barreiras impediram a entrada de muitos usuários ao sistema de blockchain e outros semelhantes no mundo digital, o que não permitiu que um grupo maior de investidores já fosse adepto às criptomoedas.
“Esse processo burocrático de entrada impediu tanto pessoas físicas, como investidores institucionais. Para pessoas físicas, o fato de a exchange ser muito diferente dos investimentos habituais, e pela necessidade da conversão de reais em ‘stable coins’, muitas pessoas perderam o interesse. Já para as institucionais, não encontrou-se muita confiança ou segurança para eventuais reparações de danos”, disse de Luca.
Apesar disso, o analista acredita que a implementação dos ETFs na Bolsa de Valores foi um fator primordial para ajudar a quebrar essas barreiras, visto que sua atuação fornece mais segurança e praticidade ao investidor.
Recuperação de ETFs de criptos é só questão de tempo
Ademais, Pedro de Luca também apontou sinais otimistas para a recuperação dos fundos das moedas digitais na B3, apesar de enfatizar que não é possível ter certeza de tal recuperação.
“Existem sim algumas projeções de melhora, mesmo que não eu não possa afirmar com certeza quais são, e quando irão ocorrer. Entre elas, o mercado de criptos aguarda ansiosamente o ‘merge’ (atualização) do Ethereum, que será um movimento bastante positivo para o mercado cripto em geral”, concluiu o especialista.
Contudo, o analista seguiu atribuindo a principal variável do comportamento dos ETFs de cripto para os próximos passos do FED, enfatizando o otimismo dos acionistas para uma folga no aperto monetário dos EUA.
Entretanto, a opinião geral do mercado ainda é de apreensão em relação ao investimento de moedas digitais na Bolsa. Apesar do olhar positivo de Vieira, e da confiança de Luca no BTC (Bitcoin), a falta de investimentos no meio digital ainda são regadas pelo medo dos investidores.
Logo, a principal análise dos investidores e acionistas dos ETFs de criptoativos tendem a seguir no mercado macroeconômico: quanto mais rápido acontecer o relaxamento do aperto monetário nos EUA e as tensões movidas pela indefinida inflação, maiores serão as chances dos fundos de moedas digitais alcançarem bons desempenhos na Bolsa de Valores, somando cada vez mais participantes no negócio.
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Texto escrito por Fabio Santiago, BP Money.