Há quem diga que esta semana foi a pior desde o início da pandemia. Começamos a segunda-feira com a expectativa para o PIB desacelerando para 5,01% em 2021 e o IPCA subindo para 8,69%. O mercado espera que o acumulado de 12 meses a inflação chegue a 10% ainda este ano.
Entre as tramitações políticas, o governo Bolsonaro conseguiu uma brecha para reavaliar o orçamento necessário para o Auxílio Brasil, ou seja, uma maneira de burlar o teto de gastos do orçamento para 2022 – na ordem de R$30 bilhões a 40 bilhões.
A decisão refletiu diretamente na equipe econômica, na quinta-feira (21). Quatro secretários do ministro da Economia, Paulo Guedes, pediram exoneração do cargo. “Essa aprovação trouxe bastante insegurança para o mercado. Os ativos de renda fixa sofreram, os pré-fixados já estão em dois dígitos e os títulos IPCA estão pagando taxas como IPCA + 5%, algo que não vimos há bastante tempo. Os investidores estão pedindo taxas maiores, a insegurança fiscal está em evidência”, comentou a assessora de investimentos da Six Investimentos, Melany Guedes.
Para o Head de Renda Variável da Zahl Investimentos, Flávio Oliveira, a vertente do populismo pode causar ainda mais incertezas. “O possível furo no teto de gastos e debandada da equipe econômica estão deixando o mercado extremamente volátil. Tudo isso abre para possíveis perguntas se esses movimentos, para o lado populista, devem-se aprofundar e continuar nessas incertezas”.
A Bolsa de Valores refletiu os acontecimentos e despencou para 107.736,01 pontos, o menor fechamento desde 20 de novembro de 2020. Os investidores ficam de olhando no risco fiscal, que cresce, já que a situação das contas públicas brasileiras deve piorar.
“As notícias são ruins, mas não param por aí, não há perspectiva de melhorar no curto prazo. Entendemos que ainda vamos ficar andando de lado ou caindo por um tempo. Tem muita gente perguntando se é a hora de comprar e a gente não tem como afirmar. Mas posso dizer que a renda fixa tem sido recompensadora nesse momento, pagando boas taxas para trazer segurança ao investidor”, acrescentou a especialista da Six Investimentos, Melany Guedes.
Greve de caminhoneiros
Entre as expectativas políticas negativas, a greve dos caminhoneiros tem tomado forma e saindo da ideia e indo para a ação. Especialistas acreditam que em novembro a paralisação deve acontecer.
“O mercado já está se preparando para a greve dos caminhoneiros no próximo mês; e a Petrobras anunciou que vai conseguir cobrir a demanda em novembro. Sendo assim, as distribuidoras terão que importar os combustíveis e o valor na bomba para o consumidor vai aumentar”, explicou o Head de Mesa da Valor Investimentos, Piter Carvalho.
“Com tudo isso, a expectativa é de que na próxima reunião do Copom devemos ver altas ainda mais expressivas da taxa básica de juros, a Selic. Antes já se falava de uma alta de 1 ponto percentual. Mas já existe a possibilidade de ser maior. O cenário está muito instável e sem a menor perspectiva de melhorar nos próximos meses”, finalizou a assessora.