Da Redação.
Segundo Antonio van Moorsel, estrategista-chefe da Acqua Vero Investimentos, os principais bancos centrais mundo ao redor do mundo avançam na milha final dos respectivos ciclos de aperto monetário. “À medida que esse aumento ocorre em meio ao incremento ainda persistente dos preços, os agentes financeiros foram obrigados a recalcular a rota no mês passado, considerando que as autoridades manterão os juros em patamar elevado por mais tempo, a fim de controlar as ameaças inflacionárias”, explica.
De acordo com o especialista, assim pode ser sintetizado o sentimento universal no último mês do terceiro trimestre de 2023, cujo pessimismo foi protagonizado pela nova perspectiva impressa pelo Federal Reserve (FED) que, por sua vez, refletiu nos quatro cantos do planeta. “Sincronicamente à resistência da inflação, o ímpeto da economia mundial está prestes a esfriar, em resposta ao aumento das taxas de juros”, prevê.
Segundo as previsões atualizadas da OCDE, o crescimento deve diminuir para 2,7% em 2024, após uma expansão já considerada abaixo do esperado de 3,0% neste ano. Com exceção de 2020, quando surgiu a pandemia, a estimativa, caso se materialize, marcaria a expansão anual mais fraca desde a grande crise financeira de 2008.
Com isso, van Moorsel afirma que a perspectiva sombria, causada pela combinação da elevada inflação e do baixo crescimento, testará os nervos dos mercados globais e dos formuladores de política monetária, haja vista que a incerteza continua exacerbada e o balanço de riscos para ambas as variáveis está inclinado para o espectro negativo.
“Dentre os fatores de risco no radar, está o petróleo. A rápida ascensão dos preços ao nível mais elevado desde novembro/22 – mais de 25% desde junho –, em razão principalmente da redução da oferta pela Arábia Saudita e Rússia, além de postergar o início da flexibilização monetária, desapossa as economias de um combustível primordial para a atividade. Sob a ótica dos preços, configura um risco potencial de repique inflacionário”, explica.
Contudo, o especialista aponta que a alta do petróleo é tímida se comparada com a disparada do diesel. Os preços do combustível nos EUA avançaram acima de US$ 140 – máxima histórica para esta época do ano –, encarecendo o transporte de produtos da fábrica para o mercado. Por sua vez, a tendência é que esse custo logístico mais elevado seja repassado para as empresas e os consumidores, impelindo os índices de preços nas leituras recentes e próximas.
“Quase impensáveis no início do ano, as taxas de juro mais elevadas delineiam uma nova fase da história monetária global – ou o retorno à normalidade que imperava antes do dinheiro fácil dos bancos centrais distorcer os mercados com trilhões de dólares. Com isto, é justo ponderar se o regime de juro ultra baixo ficou no passado. A resposta, porém, é incerta, pois dependerá do comportamento dos preços a médio e longo prazo. Entretanto, mesmo se a inflação nos próximos meses continuar arrefecendo, está claro que os mercados estão em um novo mundo, no qual os agentes demandam maior prêmio dos títulos de dívida e, naturalmente, são mais avessos ao risco”, finaliza.