Por Fernando Ferreira, Estrategista Chefe e Head do Research e Jennie Li, Estrategista de Ações, XP Investimentos.
A divulgação dos resultados do 3° trimestre de 2021 (3T21) das empresas listadas na Bolsa começou na semana do dia 22 de outubro e todas as empresas do Ibovespa já reportaram seus resultados.
Vemos os resultados do terceiro trimestre como sólidos, porém já sendo uma temporada mais fraca que as anteriores. 64% das empresas reporam Lucros Operacionais (EBITDA) acima do que esperávamos, 11% foram em linha, e os 26% restantes abaixo do que esperávamos. Quanto à receita, 55% das empresas superaram nossas expectativas, 26% foram em linha e 19% vieram abaixo.
Quanto aos setores, empresas de Agro, Alimentos & Bebidas, Bancos, Imobiliário, Varejo, Saúde, Educação, Transporte & Logística, Bens de Capital e Small Caps reportaram EBITDA acima das nossas expectativas. De destaques negativos, a maioria das empresas de Mineração & Siderurgia, que desapontaram as expectativas.
Nesse último trimestre, os mercados no Brasil andaram na contramão do mundo. No cenário externo, discussões ao redor da retirada de estímulos monetários por parte do banco central americano (o Federal Reserve), preocupações que uma crise imobiliária possa tornar a desaceleração econômica na China ainda mais aguda, e uma crise energética global afetaram os mercados pelo mundo. Domesticamente, incertezas quanto à trajetória fiscal e manutenção (ou não) do teto de gastos, pressões inflacionárias levando a taxas de juros mais alta, preocupações com uma crise hídrica, projeções menores para o crescimento em 2022, e o aumento de tensões políticas pressionaram os ativos brasileiros.
Como resultado, o índice Ibovespa caiu -12% no terceiro trimestre, explicado parcialmente pela queda nos preços das commodities, especialmente os preços do minério de ferro. As preocupações com um crescimento econômico mais lento na China e o episódio de Evergrande afetaram a commodity, que atingiu o mínimo do ano em US$ 92/tonelada, queda de mais de 50% em relação ao pico de US$ 237/ton em maio, tendo se recuperado para cerca de US$ 100/ton. Essa queda nos preços foram o principal fator por trás das revisões do Lucro por Ação (LPA) em 2021.
Além disso, com a deterioração do cenário Macro doméstico, vimos um estressa no mercado de juros também. A taxa fixa DI de 10 anos no Brasil deu um salto de +200 pontos-base, passando de 9% ao ano para 11% ao ano. E as taxas de juros reais também dispararam, subindo para 4,9% em setembro. Essa alta nas taxas de juros eleva o custo de capital das empresas, e afeta diretamente seu preço justo.
Quando consideramos o Lucro Operacional (EBITDA) das empresas do Ibovespa sob a cobertura XP, 64% das empresas que divulgaram balanços superaram nossas expectativas, 11% foram em linha e 26% vieram abaixo. Já em relação ao consenso, 60% dos resultados vieram acima dos números projetados pelo mercado, 2% em linha, enquanto 38% foram abaixo das estimativas.
Além disso, o EBITDA e a receita das empresas superaram as nossas estimativas, na média, em +6,5% e +6,7%, respectivamente.
No terceiro trimestre de 2021, o Lucro por Ação (LPA) das empresas do Ibovespa caíram 30%, quando comparado ao 2T21, e cresceram mais de 2x em relação ao mesmo período do ano passado, em grande parte explicado pela base de comparação bem fraca por conta da crise da pandemia. Segundo dados do Bloomberg, para o ano de 2021, os analistas agora estimam um crescimento de mais de 3x nos lucros das empresas em relação ao ano passado.
Apesar desses fortes resultados na temporada de resultados, a reação nos preços das ações foi negativa de forma geral, seguindo o movimento do mercado. As empresas que surpreenderam as estimativas do consenso quanto aos Lucros Operacionais e Receita tiveram um desempenho médio de -0,3% e -2,6%, respectivamente, um dia depois de cada divulgação. Enquanto isso, as companhias que desapontaram as expectativas foram mais penalizadas, com uma média de desempenho de -3,6% e -2,5% para os mesmos indicadores. E o índice Ibovespa, por sua vez, registrou uma queda de -3,1% desde o início da temporada, sendo pressionado por um aumento de incertezas políticas e riscos fiscais desde então.