A importância de manter ativos descorrelacionados do restante da carteira dentro de um cenário repleto de incertezas foi o tema da mesa “Potencial dos investimentos alternativos em situações especiais”.
O painel, realizado no início da tarde desta quarta (3) durante a Expert XP, contou com a presença de Alexandre Cruz, sócio-fundador da gestora Jive Investments e Filipe Mattos, sócio e gestor de Crédito High Yield e Situações Especiais da XP Asset. A mediação ficou a cargo de Camilla Dolle e Clara Sodré, da XP.
Em sua fala inicial, Mattos relatou a história da criação do braço da empresa focado em investimentos alternativos. “A XP sempre deu caminho aberto para implementar ideias, desde que não errássemos muito”, brinca. “Depois de cinco anos, temos mais de R$5,5 bilhões sob custódia, sendo R$2 bi em ativos judiciais ou precatórios, outros R$2 bi em creditos high yield e o restante no que chamamos de mezanino, que busca dar maior flexibilidade para as empresas”, aponta.
Ele explica que o principal ingrediente para se formar uma área de investimentos alternativos é o intercâmbio de conhecimento entre os profissionais que integram a equipe.
“Buscamos usar o capital do cliente para viabilizar uma operação com risco retorno bastante ajustado. E essa solução precisa fazer sentido tanto para nós quanto para o investidor. Ele precisa ter uma percepção de valor, seja por meio de operações de crédito, equity ou desconto de recebível”, completa.
Para Cruz, distressed é a ponta mais complicada dentro das situações especiais, pois os gestores lidam com ativos que não estão em condições normais de temperatura e pressão. “São situações que fogem do status quo por conta de problemas no tomador, no próprio ativo, ou nas duas coisas. E nos últimos tempos temos visto muitas situações especiais, como guerra, pandemia, inflação, lockdown na China”, resume.
Ele acrescenta que não basta buscar bons papéis no mercado para se ter sucesso com investimentos. “Ativos bons pelo preço errado deixam de ser um negócio favorável. Em uma situação especial, é possível comprar ativos com desconto muito grande, como pagar R$3 milhões pelo direito de cobrar R$100 milhões. Com uma boa avaliação dos riscos e um acordo favorável, se tudo der errado você ganha dinheiro, e se der certo recebe muito mais”, explica.
Sobre a estruturação de uma boa operação de investimentos alternativos, Mattos acredita que o primeiro ponto está em fazer uma avaliação criteriosa da reputação da contraparte. “É importante se informar se estamos lidando com uma pessoa que cumpre o combina e se quando ela tem dificuldades levanta a mão e abre o jogo. Pois o grande problema é esconder essa realidade”, diz.
Já o segundo elemento a ser considerado é entender como a contraparte gera fluxo de caixa e capital suficiente para um dia te pagar. Por fim, é preciso avaliar quais os outros credores que também vão tentar acessar esse caixa. “Dentro de tudo isso, entra nosso know how para estruturar as coisas de uma forma em que ficaremos melhor posicionados do que os demais para obter os recursos. Além disso, tentamos agregar algum ativo para mitigar riscos, como buscar como garantia um imóvel desvinculado do problema da empresa.”
Desafios e oportunidades
Uma das dificuldades em se lidar com os investimentos alternativos está em sua complexidade. Afinal, diferentemente de um ativo listado, que tem todas as informações à disposição, esta classe de produtos precisa que a própria equipe de análise defina fatores como preço, risco e prazo de pagamento. “Gastamos muito tempo criando essas variáveis. Então é um investimento de longo prazo, no qual a pessoa precisa estar disposta a deixar seu capital por 6 a 8 anos em um fundo”, esclarece o head da XP Asset.
“Lidamos com situações especiais em que é preciso tempo para investir e desinvestir. Por outro lado, isso gera uma descorrelação com o restante da carteira que se torna muito interessante. Nós quase não sofremos com a greve dos caminhoneiros, por exemplo, pois se tratam de produtos que os acontecimentos do mês pouco influenciam. Por esse motivo, fundos com investimentos alternativos na composição costumam apresentar retornos superiores aos demais”, argumenta o fundador da Jive.
Na avaliação de Mattos, esta é uma excelente hora para estar com dinheiro. Porém, é preciso estar atento às oportunidades, pois o mercado precifica de forma rápida. “Não perder dinheiro em crédito depende 70% da agilidade na tomada de decisão. Se uma empresa fica sem capacidade de caixa e você não tem uma pessoa especializada que faça essa leitura, vai ter dificuldade. Também é importante que os membros da equipe lidem com o dinheiro do cliente como se fosse seu. Essa é a maior proteção que o investidor pode ter”, opina.
Sobre os setores mais promissores para investimentos alternativos, Cruz afirma ser cético em relação à divisão por segmentos, mas vê boas oportunidades em infraestrutura. “É uma área que temos encontrado muitas oportunidades em virtude de concessões dadas no passado e privatizações, que trazem previsibilidade . Por outro lado, estamos fugindo daquilo que não está muito definido em função do novo normal, como investimentos imobiliários em lajes corporativas. Mas o mais importante é apostar naquilo que tem uma precificação clara e não traga incertezas”, encerra.