O mercado, na semana passada, focou nas manifestações do feriado de 7 de setembro, contrárias e favoráveis ao governo. Os discursos do presidente da República, Jair Bolsonaro, em São Paulo e em Brasília, também chamaram atenção dos agentes políticos e econômicos nacionais internacionais. A previsão é de que o humor dos investidores continue tenso na semana seguinte.
“O mercado doméstico reagiu, na quarta-feira, às falas de Bolsonaro, a apoiadores e às manifestações contra e a favor. Já na quinta-feira o mercado reagiu às falas do ministro do Supremo Federal (SFT), Luiz Fux, que reagiu aos discursos do presidente”, analisou o especialista em câmbio da Valor Investimentos, Rafael Ramos.
Para o analista, o mercado segue respondendo às escaladas de tensões entre os poderes e também à pressão da própria economia. “De fato, os próximos dias não serão menos tensos, continuaremos nesse cenário de tensão, que segue pressionando o mercado interno”, avaliou.
Inflação
Na segunda-feira (06), o Relatório Boletim Focus, do Banco Central, anunciou pela 22ª semana seguida aumento das expectativas para inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo). Para este ano, o índice oficial de preços deve chegar a 7,63% e, para 2022, em 7,75%, bem acima do teto da meta inflacionária estabelecida pela autoridade monetária este ano, de 5,25%. O centro da meta para 2021 é de 3,75%, enquanto a margem de tolerância é de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima. Ou seja, varia de 2,25% a 5,25%. Já meta inflacionária para 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto.
“Os dados da inflação vieram um pouco acima do esperado, elevando o acumulado de 12 meses a patamares extremamente altos, o que começa a dar sinais de que todo o ciclo de aumentos de juros em 2021 não será suficiente para acomodar a inflação dentro do teto da meta”, pontuou Ramos.
Na quinta-feira (09), Bolsonaro voltou a discursar, mas dessa vez em um tom ameno, acalmando os ânimos do mercado exaltados no feriado. “O mercado subiu quase 2% após o tom mais conciliador do presidente. Na nossa visão, isso é bastante positivo, porque em teoria se reduz a incerteza”, explicou o sócio e especialista da Zahl Investimentos, Flávio de Oliveira.
Expectativas
A conjuntura ainda é um terreno muito nebulosa. A expectativa, porém, é de que o mercado se acalme, mas não necessariamente será um cenário positivo. “Temos a crise hídrica e o movimento de caminhoneiros que fazem uma sobra. Também tem os três poderes se articulando para resolver problemas estruturais; em teoria ao longo do tempo, todos os problemas seriam resolvidos, reduzindo a expectativa de juros e de câmbio. Isso acaba ajustando outras questões”, pontuou Oliveira.
O sócio da Zahl avalia que a volatilidade deve diminuir bastante, mas reitera que isso não significará alta do índice Ibovespa.