Por Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.
Donald Trump tomou posse como 47o presidente dos Estados Unidos, no que certamente será o evento mais importante de 2025. O que acontecerá daqui para a frente no mundo levará, direta ou indiretamente, a marca desse evento que aconteceu na rotunda do Capitólio na última congelante, pelo menos em Washington, segunda-feira (20/1).
Fazer uma análise do que ocorreu desde então é um desafio hercúleo, uma vez que a cada dia surge uma novidade. Mas essa é nossa missão na edição desta semana de “O Canário da Mina” (OCM). Apertem os cintos. A primeira coisa que salta aos olhos é a vitalidade do novo presidente americano – que, para falar a verdade, de novo não tem nada, no alto de seus 78 anos.
No dia da posse, ele fez três discursos, deu uma entrevista coletiva, assinou 41 novas ordens executivas, revogou 78 assinadas por Joe Biden e ainda encontrou “forças” para dançar com a primeira-dama, Melania Trump, no jantar. Mas obviamente não é isso que vai fazer a diferença para o mundo em geral e para o Brasil em particular. Então vamos às nossas primeiras impressões. Podemos dizer que tivemos duas surpresas iniciais. A primeira é que Trump foi muito mais agressivo do que o esperado na questão da imigração; e a segunda é que ele foi muito menos agressivo do que o esperado na questão das tarifas. Vamos começar pela primeira surpresa.
Já no discurso oficial da posse, Trump disse que declararia emergência nacional na fronteira sul, ou seja, na fronteira com o México, prometendo finalizar o muro e enviando o exército para conter a entrada de imigrantes ilegais. Além disso, ele autorizou a “remoção expedita”, o que significa que a Agência de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) poderia extraditar de forma sumária – sem precisar passar por qualquer instância da Justiça – qualquer imigrante que seja pego cometendo infrações e/ou não consiga comprovar que esteja nos EUA há mais de dois anos.
Entretanto, a medida mais polêmica foi a de negar a cidadania americana aos filhos de imigrantes ilegais que nascessem em território americano. Vinte e dois estados, mais duas cidades – São Francisco e Washington – já entraram na Justiça para reverter essa ordem executiva de Trump, sob a justificativa de que a 14a emenda constitucional1 garante a cidadania americana aos nascidos em solo americano (jus soli) independentemente da situação dos pais. Ou seja, uma medida pra lá de controversa, que provavelmente será derrubada, mas dá a dimensão da ênfase dada a esse assunto logo no início do mandato. Quais serão as consequências para a economia americana?
Difícil dizer neste momento, vamos ter que avaliar a extensão do “estrago” dessas medidas, e de outras que estão por vir, no mercado de trabalho americano. Mas o que aconteceu no pós-pandemia, quando havia algo próximo de 3 milhões de vagas abertas sem trabalhadores disponíveis para ocupá-las, pode ser um bom ponto de partida. Lá causou inflação.
Por que seria diferente agora? Se a agressividade quanto à questão imigratória surpreendeu, a pouca ênfase nas tarifas também não passou
desapercebida.